No início do século 20 houve a
passagem da sociedade de produção, para a sociedade do consumo, o que resultou
na fragmentação da vida humana. Onde se viam conceitos e projetos de vida, na
pós-modernidade já não se encontram mais. Aqui, na pós-modernidade deixam de existir o que SARTRE denominou como Projet
de la vie, que consistia em prosseguir passo a passo, culminando numa
colheita mais tardia.
(...) O homem, antes de mais
nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de projetar no
futuro. O homem é, antes de mais nada, um projeto que se vive subjetivamente.(...)
Nada existe anteriormente a este projeto.(...) O homem será antes de mais o que
tiver projetado ser. Não o que ele quiser ser. Porque o que entendemos
vulgarmente por querer é uma decisão consciente, e que, para a maior parte de
nós, é posterior aquilo que ele próprio se fez. Posso querer aderir a um
partido, escrever um livro, casar-me; tudo isso não é mais do que a
manifestação duma escolha mais original, mais espontânea do que o que se chama
vontade. Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é
responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o
de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total
responsabilidade de sua existência. (SARTRE, 1970, p.6)
Tudo
se torna passageiro na modernidade, e inconstante, ela nos trouxe uma série de
novas tecnologias, o que nos possibilitou um maior acesso as informações, mudou
os estilos de vidas, as ideologias foram trazidas a público, onde são de
diferentes valores e princípios, onde todos são forjados a se “adaptar” ao
social. O indivíduo possui a função de se padronizar a seu meio, e se subjugar ao seu próprio eu, se individualizando, de forma que ele próprio seja
prisioneiro da sua liberdade. E este é o padrão de sociedade encontrada nos
dias atuais, onde a vida é consumo público, e as relações humanas, estão
habituadas a não serem fixas.
Para
a grande maioria dos habitantes do líquido mundo moderno, atitudes como cuidar
da coesão, apegar-se às regras, agir de acordo com precedentes e manter-se fiel
à lógica da continuidade, em vez de flutuar na onda das oportunidades mutáveis
e de curta duração, não constituem opções promissoras. (BAUMAN, 2005, p.60).
Bauman nos apresenta a Modernidade
Líquida, de forma que mergulhemos nas instantaneidades que ela nos proporciona,
as relações neste dado momento, já não são mais duradouras. Os vínculos
afetivos se tornam inexoráveis, tudo é volátil, nada é sólido, tudo é absorvido,
mas nem tudo é aproveitado, nisto podemos enquadrar uma sociedade consumista,
em que Bauman nos diz:
O mundo
construído de objetos duráveis foi substituído pelo de produtos disponíveis
projetados para imediata obsolescência. Num mundo como esse, as identidades
podem ser adotadas e descartadas como uma troca de roupa. O horror da nova
situação é que todo diligente trabalho de construção pode mostrar-se inútil; e
o fascínio da nova situação, por outro lado, se acha no fato de não estar
comprometida por experiências passadas, de nunca ser irrevogavelmente anulada,
sempre ‘mantendo as opções abertas. (1998, p.112-113).
Os objetos, apresentados ao
consumismo, perdem rapidamente seus valores, são substituídos por outros, assim
que o prazer de ter é saciado. O indivíduo torne-se mais egocêntrico devido à
posse que tens no seu consumo. Ele emerge neste mundo como meio de se
completar, onde acredita satisfazer-se com o que acredita essencial a sua
sobrevivência, porém está apenas se empanturrando de futilidades.
Enfim, podemos perceber que esta sociedade, esta cada vez mais alienando
os homens, tornando-os reféns do seu próprio sistema, convém analisarmos, e
perceber que não são só de críticas, que moldamos esta sociedade, percebo que
ela tem muito a proporcionar, e se modificar. Contudo, na medida certa, onde
todos possam usufruir dos meios existentes, não havendo exclusão de parte
alguma, mas todos trabalhando juntos, para não nos tornarmos tão
individualistas. A fim de que, aprendamos a sobreviver com as transformações, sem
nos deixarmos vencer por estas tecnologias.
Raianne
Raquel Silva de Miranda
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REFERÊNCIAS
BAUMAN,
Zygmunt. Identidade: entrevista à
Benedetto Vecchi. 1ª ed. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 2005.
BAUMAN,
Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade.
1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
1998.
SARTRE, J. P. O
existencialismo é um humanismo. 4ª edição. Trad. Vergílio Ferreira. São
Paulo. Editorial Presença. 1970.
Muito bom o artigo e tenho a seguinte reflexão: que mesmo estando num mundo em que nossa liberdade nos aprisiona, ainda assim, como diz Bauman temos a liberdade de escolha, de construir um mundo alternativo onde não somos vencidos pelos truques da sistema capitalista.
ResponderExcluirBauman nos motiva a guardar aquilo que se fez presente nas gerações passadas, tentando, enxergar os valores, a durabilidade das coisas, o compromisso... Pois já não podemos mais contar com isto. Isto vale pra absorção dos problemas encontrados hoje, e buscar medidas de mudanças para eles.
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