domingo, 28 de outubro de 2012

PÓS-MODERNIDADE: O NOVO SE FEZ DESIGUAL

          No início do século 20 houve a passagem da sociedade de produção, para a sociedade do consumo, o que resultou na fragmentação da vida humana. Onde se viam conceitos e projetos de vida, na pós-modernidade já não se encontram mais. Aqui, na pós-modernidade deixam de existir o que SARTRE denominou como Projet de la vie, que consistia em prosseguir passo a passo, culminando numa colheita mais tardia.

(...) O homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de projetar no futuro. O homem é, antes de mais nada, um projeto que se vive subjetivamente.(...) Nada existe anteriormente a este projeto.(...) O homem será antes de mais o que tiver projetado ser. Não o que ele quiser ser. Porque o que entendemos vulgarmente por querer é uma decisão consciente, e que, para a maior parte de nós, é posterior aquilo que ele próprio se fez. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me; tudo isso não é mais do que a manifestação duma escolha mais original, mais espontânea do que o que se chama vontade. Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade de sua existência. (SARTRE, 1970, p.6)

Tudo se torna passageiro na modernidade, e inconstante, ela nos trouxe uma série de novas tecnologias, o que nos possibilitou um maior acesso as informações, mudou os estilos de vidas, as ideologias foram trazidas a público, onde são de diferentes valores e princípios, onde todos são forjados a se “adaptar” ao social. O indivíduo possui a função de se padronizar a seu meio, e se subjugar ao seu próprio eu, se individualizando, de forma que ele próprio seja prisioneiro da sua liberdade. E este é o padrão de sociedade encontrada nos dias atuais, onde a vida é consumo público, e as relações humanas, estão habituadas a não serem fixas.

Para a grande maioria dos habitantes do líquido mundo moderno, atitudes como cuidar da coesão, apegar-se às regras, agir de acordo com precedentes e manter-se fiel à lógica da continuidade, em vez de flutuar na onda das oportunidades mutáveis e de curta duração, não constituem opções promissoras. (BAUMAN, 2005, p.60).

          Bauman nos apresenta a Modernidade Líquida, de forma que mergulhemos nas instantaneidades que ela nos proporciona, as relações neste dado momento, já não são mais duradouras. Os vínculos afetivos se tornam inexoráveis, tudo é volátil, nada é sólido, tudo é absorvido, mas nem tudo é aproveitado, nisto podemos enquadrar uma sociedade consumista, em que Bauman nos diz:

O mundo construído de objetos duráveis foi substituído pelo de produtos disponíveis projetados para imediata obsolescência. Num mundo como esse, as identidades podem ser adotadas e descartadas como uma troca de roupa. O horror da nova situação é que todo diligente trabalho de construção pode mostrar-se inútil; e o fascínio da nova situação, por outro lado, se acha no fato de não estar comprometida por experiências passadas, de nunca ser irrevogavelmente anulada, sempre ‘mantendo as opções abertas. (1998, p.112-113).

          Os objetos, apresentados ao consumismo, perdem rapidamente seus valores, são substituídos por outros, assim que o prazer de ter é saciado. O indivíduo torne-se mais egocêntrico devido à posse que tens no seu consumo. Ele emerge neste mundo como meio de se completar, onde acredita satisfazer-se com o que acredita essencial a sua sobrevivência, porém está apenas se empanturrando de futilidades.

         Enfim, podemos perceber que esta sociedade, esta cada vez mais alienando os homens, tornando-os reféns do seu próprio sistema, convém analisarmos, e perceber que não são só de críticas, que moldamos esta sociedade, percebo que ela tem muito a proporcionar, e se modificar. Contudo, na medida certa, onde todos possam usufruir dos meios existentes, não havendo exclusão de parte alguma, mas todos trabalhando juntos, para não nos tornarmos tão individualistas. A fim de que, aprendamos a sobreviver com as transformações, sem nos deixarmos vencer por estas tecnologias.

Raianne Raquel Silva de Miranda


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REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista à Benedetto Vecchi. 1ª ed. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 2005. 

BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. 

SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. 4ª edição. Trad. Vergílio Ferreira. São Paulo.  Editorial Presença. 1970.

2 comentários:

  1. Muito bom o artigo e tenho a seguinte reflexão: que mesmo estando num mundo em que nossa liberdade nos aprisiona, ainda assim, como diz Bauman temos a liberdade de escolha, de construir um mundo alternativo onde não somos vencidos pelos truques da sistema capitalista.

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  2. Bauman nos motiva a guardar aquilo que se fez presente nas gerações passadas, tentando, enxergar os valores, a durabilidade das coisas, o compromisso... Pois já não podemos mais contar com isto. Isto vale pra absorção dos problemas encontrados hoje, e buscar medidas de mudanças para eles.

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